domingo, 15 de junho de 2008

são sebastião de manhattan

Quarta eu não trabalhei até tarde.
Eu não cheguei em casa à uma da manhã morta querendo uma piscina com hidromassagem pra curar minhas dores e esse calor infernal.
Eu não tive inveja da moça que sentou pro happy hour, cujo drama da vida era se queria margarita de blackberry ou manga. Frozen ou on the rocks. Com sal ou sem sal. Mesmo porque eu não estava la àquela hora! E porque ela é certamente uma chata, que trabalha em Wall Street com chatos que conversam sobre a bolsa de valores na hora do almoço.

Eu não pude ver Portugal x Republica Checa, porque um bando de engravatados resolveu comer tacos e burritos.
Eu não pude de jogar a bandeja pro alto como um frisbee na cabeça da gerente horrorosa, porque obviamente, isso não se faz.
Eu não mandei tudo a la mierda, nem joguei aquele aventalzinho que esquenta minhas pernas no chão, porque eu sabia que não iria trabalhar até tarde. E que era só atravessar a rua e chegar em casa, e todos os meus dramas capricornianos, aguçados por esse calor de la porra, seriam acalmados pelo ar condicionado do meu quarto que me esperava quase petrificado.
Esperei as quatro badaladas p.m., cobrei meus 20 bucks ganhos na aposta do futebol graças ao Felipão, e como era esperado, em três minutos estava em casa!
Dei uma descansadinha, uma olhadinha nos emails, uma conferida na programação do free events e voilà!
Troquei aquela roupa preta, peguei o iPod e fui correr até a hora do show anunciado bem aqui do ladinho de casa.
Comecei no Battery Park, passei pelo Pier 17 (onde o palco estava montado), pela Manhattan Bridge, Williamsburg Bridge, vi o céu alaranjando, meu fôlego acabando e voltei pra ver Ed Palermo's Big Band.
O lugar estava cheio de pessoas sem pressa, turistas desavisados, crianças descalças e fãs da banda, que adorei conhecer .
Tinha gente tomando sorvete, chá verde, cerveja e mamadeira.
Um fim de tarde em New Orleans.
Ed Palermo contou de sua paixão por Frank Zappa, desde quando o viu tocar na Philadelphia há mais de vinte anos.
Foi escurecendo no finzinho de Manhattan. Tanto Frank Zappa assim, eu me lembrei da lisérgica Ouro Preto nos anos 2001 e 2002. Como se isso soasse como década de 60 ou 70.
Naquela época ainda éramos dotados de um espírito hippie que nos permitia tomar Catuaba Selvagem ou qualquer outra coisa que fizesse o mundo ainda mais divertido!
O carro, que se a memoria não falha era o Twingo, tinha problemas constantes em subir a ladeira íngreme pra chegar até o Morro São Sebastião, na penúltima casa da rua, que tinha uma porta e duas janelinhas na frente, grama verdinha e dois cachorros; como num desenho de criança. Ficava bem ao lado da mata que levava à Cachoeira das Andorinhas e a todas as suas estórias.
Na sala, a coleção grande de LP's para a trilha sonora daqueles fins de semana e feriados. Além de muito Frank Zappa, não faltava Yes, Genesis, Mutantes e até Clara Crocodilo, entre almofadas e gargalhadas.

Sopas foram esquecidas no fogo. Pacotes e pacotes de pão de queijo foram consumidos. Frases daquela época viraram bordões usados entre nós até hoje. Músicas foram criadas. Vídeos engraçados foram feitos. Poucas fotos foram tiradas.
Hoje (quase) todos fomos dominados por necessidades mundanas e pela falta de tempo. Mais que a falta de tempo, fomos nos espalhando pelo mundo, fazendo nossas vontades, dando rumo às vidas como sempre quisemos mas como nunca imaginamos que seria.
Assistindo a Grande Banda de Ed Palermo naquela tarde eu pensei em vocês, amigos queridos, que faziam minha vida uma loucura linda!
E era com vocês que eu queria assistir aquele show.
Com você, meu amigo desde sempre, necessário nas minhas tardes para cafés, casos e cigarros, que casou com músicas dos Beatles, chorou toda a cerimônia, e fez todo mundo chorar.
E com você, anfitrião, que junto de seu cachorro tocador de bongô, era responsável por frases solenes e uma risada inesquecível. Já não mora na casa de desenho, mas tem uma filha linda e sorridente.
E com você, amiga louca, que me mata de saudades e mora na Chapada Diamantina, ainda hippie, andando descalça e vivendo um grande amor.
E com você, meu irmão, que me tira qualquer egoísmo, que me fez sentir amor incondicional antes mesmo de saber o que era isso, e agora foi levado pelos bons aires à Argentina.
Era com vocês que eu queria estar aquela hora, tomando Catuaba quando Nova Iorque virou Ouro Preto e Manhattan o Morro São Sebastião.

3 comentários:

optimistic disse...

como sempre, o texto ficou ótimo.

Unknown disse...

Oi Bárbara! Qual o seu email. Quero fazer uma matéria a respeito de NYpara a minha coluna e gostaria de contar com sua colaboração. Meu endereço é helvecio.figueiredo@uai.com.br

Adriana Pellegrini disse...

nossa........... q lindo.........
;[