segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

vou-me embora como 2008

Dark nights are moving fast
Becoming moments past
(...)
The seconds
Stretch to days
Because time was
Made that way.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

navegar é preciso


um pouco de leminski enquanto faco as malas outra vez.
'cause i'm in the mood for uk!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

we'll always have new york!

Quando John Kander escreveu, lá na década de 70, que NY era a cidade "that never sleeps" ele devia estar falando de uma cena boemia lá dessas épocas. Quem mora na cidade sabe que você pode sim achar muita coisa aberta pra sempre, mas se o negócio é diversão, after parties e tal, NY é murcha. Nada nem perto da movida mardrileña ou porteña, nem aos pezinhos da moderna Berlin.

No dia em que me mudei pra Berlin saí com o amigo de um amigo de um amigo. Ele estava com vários outros amigos e eles passaram aqui em casa pra me pegar as 8 da noite. Eu abri a porta de casa de volta às 8:30 da manha. Um pouco torta, um pouco descabelada, um pouco rosa de frio e pernas sem muito ritmo. Meio Patsy Stone pra dizer a verdade. E isso porque eles alegaram não estarem muito animados naquela dia. Medo.


Minha saudade de NY não entrou na história ate eu acordar às 3 da tarde. No susto, porque tinha colocado o despertador pra alguma hora tipo 2:18 (essas coisas me fazem lembrar que não sou muito normal) mas esqueci de confirmar e é claro que ele não tocou. Vocês não sabem o meu medo de acordar aqui depois das 3:30, quando começa a escurecer. Eu já perco meu rumo mesmo estando acordada há horas. Acordar com o dia escuro pra mim é pior que jetlag.

Acontece minha gente, que a pessoa aqui é totalmente no limits! Eu fico bêbada carpe diem, rica,
sociável que é uma beleza. E eu gastei tipo MUITO dinheiro. Oquei! Esse não foi o problema, o problema foi acordar no outro dia, com o estômago nas costas e lembrar que eu só tinha dólares e nada na geladeira, porque o desespero da pessoa em sair pra noite berlinense foi tamanho, que eu pulei a etapa do primeiro-supermercado-com-calma-no-dia-da-mudança pra me emperequetar no espelho.

Eu tomei uma neosa, uns sete litros de agua e saí em disparada rumo ao supermercado mais próximo, tentando ser feliz naquele estado que me encontrava, com o meu cartão de crédito na mão.

Pomelo, sucrilhos, pão isso, pão aquilo, melão, cogumelo, tomate, iogurte, queijo isso, queijo aquilo, todas as salsichas do mundo, coca, leite, suco, vela, etc etc etc etc..... Passo tudo no caixa,
enfio tudo na minha mochila e na sacola - que também custa alguns centavos - e ao entregar meu Visa Gold lindão e brilhante pro moço, não precisou-me três segundos pra entender que em qualquer língua ele estava falando que ali não se aceitava cartão de créditOOO!

Alou! Atenção! Berliiiin! Cidade mais cool da EuropAAA. Não aceita cartão de crédito no supermercado. Se você for no Armazém do Nondas lé no Serro ele deve aceitar. E em Nova Iorque minha gente, até na feirinha da Union Square! Como naquela propaganda do Mastercard que o cara rouba laranjas e o outro tira a maquininha maestro do bolso sabe? Pois é.

Então! Eu fiquei muito, muuuuito vermelha. E eu só sabia pedir desculpas tirando todas os quitutes da mochila e colocando de volta no carrinho. Eu só queria comer. Pobre alma. Eu não estava muito preocupando com o meu carão não. Fiquei com vontade de chorar. De fome e de raiva dessa roça. (Blasfêmia! Bate na boa menina!)

Fui pro outro supermercado e fui mais esperta dessa vez. Perguntei antes e a resposta foi a mesma: "NEIN". Vocês não estão entendendo. Eu moro em Mitte. Mitte é o Soho de Berlin e eu não conseguia pagar uma coisa qualquer com cartão de crédito. E o dólar, bom o dólar eu teria que achar um lugar aberto porque era sábado a tarde. Teria que ir a Hauptbahnhof, e a minha ressaca me permitia passar fome, mas não andar tanto pra pegar dinheiro. E caixa eletrônico? E ATM? Vocês se perguntam... a anta aqui não lembra a senha de jeito ne-nhum! Tenho problemas. Issuessss!

A essa altura eu só queria ligar pra minha mãe. Porque e assim né? Inventa de morar em qualquer canto, faz um drama que quer mais incertezas na vida, e é só passar (a primeira) fome que quer ligar pra mãe.

Só que a pessoa sem limites gastou todo o crédito do celular mandando mensagens bêbadas na noite anterior, (e dessa vez nao mandei pra minha mãe. porque só eu consigo mandar mensagens nonsense de madrugada pra minha MAE, como se nao tivesse amigos insanos suficientes pra bombardear as caixas de entrada dos celulares) e àquela altura eu ainda nem sabia como se ligava à cobrar pro Brasil. Eee a minha internet não funcionava pro google me dar o número. Como assim a internet não funciona? Existe vida assim?

E é claro que, sendo minha mãe como é, sentiu lá da latitude e longitude dela, que a criança aqui
estava em apuros e me ligou. (Não, ela ligou porque eu sumi mesmo!) Aí fiz aquele drama que eu só faço com ela, mesmo sabendo que ela é a única pessoa com quem não devo fazer este tipo de drama.

- "Mãããããe, eu to morrendo de fome, mãe. Tá frio pra caralho e eu não tenho mais euros. Não aceitam cartão de crédito (sexagésima vez que repito esta frase no post) no super mercado, eu tô numa ressaca monstro, não sei o que faço... eu quero minha vida fácil de NY de novo, mãããe." (olha o naipe)

- "Minha filha, ô minha filha, calma! Por que você sumiu? Ontem foi nosso aniversário de casamento, você não recebeu minha mensagem não? Por que você não ligou?"

- " Mãããe, porque eu não tenho crédito no meu celular! Eu não tenho um mísero euro pra comprar um falafel e minha única moeda eu pus no carrinho do supermercado e ela ficou lá, mãe... e eu não sei se aqui tem aqueles cartões telefónicos mágicos pra ligar pro Brasil mãe..."

- "ô meu Deus, calma minha filha. Você já sabia que as coisas aí não são como em NY. (chutando cachorro morto, né?) Agora senta num restaurante e come, oras"

- "Não mãe... eu moro no Soho de Berlin mãe... tudo é caro pra turista ver e eu não quero gastar
o pouco dinheiro que eu tenho num restaurante. E olha esse aqui. Vietnamita. Eu não entendo nada que ta escrito no cardápio mãe. Brühe. Que que é brühe?! E eu deixei o dicionário em casa. E esses vietnamitas não falam nem alemão direito, o que dirá de inglês! Eu quero o o thai da N2nd mãe..."

- "Pelo amor de Deus! O que são 15/20 euros minha filha?! Pode parar com isso! Onde já se viu? Ou então fica aí, passando frio e fome mesmo tá? E deixa eu desligar que tenho que sair. Vai comer minha filha, vai comer."

E então eu me vi sem saída, sentei num restaurante, pedi antes de tudo uma Coca, que tomei
de olhos fechados. E sim, eles aceitavam cartão! Comi achando tudo uma maravilha, mas o estômago estava tão pequeno que na metade no prato eu já estava suspirando, mas depois de taaanto sacrifício eu tinha que comer! Mesmo porque fiquei sem graça de pedir pra levar o resto pra casa, porque não sei se aqui o povo é chato como em Paris e se era muito feio ou sei lá o quê. Retardada né? Né, eu sei.

Missão cumprida, prato limpo, fiz aquele sinalzinho básico mundial de "A conta por favor. "E, garçons do mundo, vocês vêm até a mesa e perguntam: "A conta?". É claaaro que é a conta criatura! Ou seria "posso fumar um baseado?" ou "posso soltar pipa?". Isso me irrita. E me irrita mais porque eu fazia isso em NY. ufff... Enfim... e lá veio ela: 4 euros um copo de coca cola! Copo, porque nem era a lata. Meu Deus, esse muro caiu vão fazer 20 anos e a coca custa 4 euros!

NY I miss you! Viva o refil, viva a lata de coca de 75 centavos, viva os celulares baratos e aluguéis caros, as televisoes achadas na rua, as gorjetas, a Xth st. between tal e tal, o trem 24/7 e a vida boa e prática daquela cidade! Viva ganhar dinheiro e não se preocupar com preços. Viva as notas de dólar, porque ninguém merece esse tanto de moeda que inventaram pra esse euro. Viva a minha mãe, que aguenta os meus dramas mas não me deixa perder o juízo.

E então de barriga cheia, a alma de volta ao lugar, eu saí andando pelas ruas de Mitte, me
encantando mais uma vez com aquele povo bonito, aquele frio chique, aqueles prédios GDR, a antena onipresente de Alexanderplatz... ah, como e bom estar em Berlin!


ps: berlin e baratíssima. tudo. mesmo. não acreditem no meu drama.
mas o resumo da ópera é que nada e tão fácil como ny. tô querendo o que também? a rapadura e doce mas nao é mole não, colega!