Eu poderia contar rapidamente que Berlin é, economizando adjetivos, a cidade mais emocionante que já estive. Também não vi em nenhum lugar por onde passei, pessoas mais legais, gentis e encantadoras como os alemães. Ando assim, cheia de novas-velhas teorias e acho que fui mesmo sorteada com as pessoas mais especiais, e isso inclui nacionalidades diversas como uma Torre de Babel.
Poderia escrever nesse blog (onde deveria falar sobre Nova Iorque) que chorei em diversas partes da cidade, não importando se era East ou West Germany. E que nesses últimos 16meses chorei mais de felicidade que de outra coisa. E que da minha janela se via a antena de Alexanderplatz, que me inspirava como o Cristo! E que Berlin é calma, sem hora do rush, sem trânsito, sem multidões no metrô. Uma vida em câmera lenta se comparada com NY.
Também contaria que na minha casa tinha dois canarinhos (Figaro & Louis) que viviam soltos! Não tinham lá bons modos como cães e gatos mas alegravam as manhãs cinzentas que eu adorava com uma cantoria danada. E que eu não tenho, como quem me conhece sabe, nada contra frio, nem contra chuva, nem contra neve e muito menos contra aquele céu escuro -seja o cinza durante o dia ou a noite que chega cedinho- mas tudo junto me parece, como escutei por aí, um capricho Berlinense, mas que eu aprendi a adorar mais a cada dia.
Eu poderia contar também que tinha uma bicicleta rosa com cestinho, com o banco torto e o farol baixo, que me fazia passar algumas vergonhas nos dias de muita neve mas que me levava pra todos os cantos. E que não há jeito melhor de conhecer a cidade! E que ando já tendo crises de abstinência por aqui devido a minha antiga dieta Berlinense a base de döner e durum! E que por algum motivo sobrenatural me tornei, contra a minha vontade, uma pessoa otimista, com uns quês hippies que me fazem rir! Aquela coisa socialista-revolucionária que ainda está gravada nas esquinas da cidade e na alma das pessoas me atingiu de alguma forma...
Ou que toda casa tem rádio na cozinha, e que de manhã eu acordava e ouvia as notícias enquanto preparava o café, e entendia lá uma meia dúzia de palavras... E que televisão so vi nas lojas! E que os Frühstücks eram tomados na sala com a decoração mais GDR da história, e que éramos uns dez ou doze, cada um carregando da geladeira o que tinha. E a refeição se tornava o programa mais importante do dia, com caffè latte que rendia a tarde toda, misturando toda aquela cena vintage com as pessoas mais mudernas da cidade.
Eu poderia descrever a felicidade de reencontrar tantas pessoas queridas depois de tantos anos, e de conhecer outras que fazem meu coração virar uma jujuba de saudade já. E que a música ambiente do avião antes de decolar rumo à casa era Another World do Antony & the Johnsons, e que as lágrimas foram instantâneas. E que as despedidas foram muitas, em muitos cantos, e foram lindas, dessas em silêncio e cheias de drama ...
Mas devo mesmo é contar de Nova Iorque, e como derramo lágrimas em qualquer comédia romântica que tem a cidade como cenário. E como eu acho que todos devem morar lá alguma vez na vida. Como eu amo o Brooklyn e como Williamsburg é fuckin' special pra mim. E que eu não fui nem pretendo ir na Estátua da Liberdade. De como sinto saudades das esquinas com cheiro de roupa limpa e do trens 24/7, pra não falar deles todos que ficaram por lá, mas andam sempre aqui comigo. De como eu poderia morar pra sempre naquela cidade, naquele ritmo frenético que me traz um milhão de coisas boas. Como me inspira andar por qualquer lugar, seja nos Villages, no LES, nos Upper sides, nas ruas estranhas de Downtown e até na feia Midtown. Que lá tudo acontece se você quiser de verdade. Onde perde-se e ganha-se amores. Onde a liberdade tem outro sentido e a única certeza é que virão sempre surpresas.
Agora a vida me trouxe de volta às alterosas, onde os dias se resumem até então em matar as outras saudades, tomar mais cerveja gelada do que chá e escutar mais casos que contar. A cabeça anda um ninho de mafagarfa, sem entender muito bem a maioria das coisas, com mais planos do que paciência e com a sensação de que nada mudou. Ninguém mais gordo ou mais magro. Só a minha cachorra parece mais velha e devagar. E BH, que além de botecos, ganhou no mínimo mais uns vinte restaurantes japoneses por algum motivo estranho.
Sem mais delongas me despeço do blog e da vida que levei nos últimos meses. Temendo a falta de estrangeiridade e novidades. Procurando no palheiro a vontade mais importante e feliz no caminho. Por todos os dias, por tudo de irresistível que me entreguei, por tudo de bom e de ruim, bonito e difícil, inspirador e decepcionante, pela quase centena de shows inesquecíveis, por eles, de novo por eles, por tudo que me aconteceu, eu agradeço.
Poderia escrever nesse blog (onde deveria falar sobre Nova Iorque) que chorei em diversas partes da cidade, não importando se era East ou West Germany. E que nesses últimos 16meses chorei mais de felicidade que de outra coisa. E que da minha janela se via a antena de Alexanderplatz, que me inspirava como o Cristo! E que Berlin é calma, sem hora do rush, sem trânsito, sem multidões no metrô. Uma vida em câmera lenta se comparada com NY.
Também contaria que na minha casa tinha dois canarinhos (Figaro & Louis) que viviam soltos! Não tinham lá bons modos como cães e gatos mas alegravam as manhãs cinzentas que eu adorava com uma cantoria danada. E que eu não tenho, como quem me conhece sabe, nada contra frio, nem contra chuva, nem contra neve e muito menos contra aquele céu escuro -seja o cinza durante o dia ou a noite que chega cedinho- mas tudo junto me parece, como escutei por aí, um capricho Berlinense, mas que eu aprendi a adorar mais a cada dia.
Eu poderia contar também que tinha uma bicicleta rosa com cestinho, com o banco torto e o farol baixo, que me fazia passar algumas vergonhas nos dias de muita neve mas que me levava pra todos os cantos. E que não há jeito melhor de conhecer a cidade! E que ando já tendo crises de abstinência por aqui devido a minha antiga dieta Berlinense a base de döner e durum! E que por algum motivo sobrenatural me tornei, contra a minha vontade, uma pessoa otimista, com uns quês hippies que me fazem rir! Aquela coisa socialista-revolucionária que ainda está gravada nas esquinas da cidade e na alma das pessoas me atingiu de alguma forma...
Ou que toda casa tem rádio na cozinha, e que de manhã eu acordava e ouvia as notícias enquanto preparava o café, e entendia lá uma meia dúzia de palavras... E que televisão so vi nas lojas! E que os Frühstücks eram tomados na sala com a decoração mais GDR da história, e que éramos uns dez ou doze, cada um carregando da geladeira o que tinha. E a refeição se tornava o programa mais importante do dia, com caffè latte que rendia a tarde toda, misturando toda aquela cena vintage com as pessoas mais mudernas da cidade.
Eu poderia descrever a felicidade de reencontrar tantas pessoas queridas depois de tantos anos, e de conhecer outras que fazem meu coração virar uma jujuba de saudade já. E que a música ambiente do avião antes de decolar rumo à casa era Another World do Antony & the Johnsons, e que as lágrimas foram instantâneas. E que as despedidas foram muitas, em muitos cantos, e foram lindas, dessas em silêncio e cheias de drama ...
Mas devo mesmo é contar de Nova Iorque, e como derramo lágrimas em qualquer comédia romântica que tem a cidade como cenário. E como eu acho que todos devem morar lá alguma vez na vida. Como eu amo o Brooklyn e como Williamsburg é fuckin' special pra mim. E que eu não fui nem pretendo ir na Estátua da Liberdade. De como sinto saudades das esquinas com cheiro de roupa limpa e do trens 24/7, pra não falar deles todos que ficaram por lá, mas andam sempre aqui comigo. De como eu poderia morar pra sempre naquela cidade, naquele ritmo frenético que me traz um milhão de coisas boas. Como me inspira andar por qualquer lugar, seja nos Villages, no LES, nos Upper sides, nas ruas estranhas de Downtown e até na feia Midtown. Que lá tudo acontece se você quiser de verdade. Onde perde-se e ganha-se amores. Onde a liberdade tem outro sentido e a única certeza é que virão sempre surpresas.
Agora a vida me trouxe de volta às alterosas, onde os dias se resumem até então em matar as outras saudades, tomar mais cerveja gelada do que chá e escutar mais casos que contar. A cabeça anda um ninho de mafagarfa, sem entender muito bem a maioria das coisas, com mais planos do que paciência e com a sensação de que nada mudou. Ninguém mais gordo ou mais magro. Só a minha cachorra parece mais velha e devagar. E BH, que além de botecos, ganhou no mínimo mais uns vinte restaurantes japoneses por algum motivo estranho.
Reencontrei de novo formigas e mosquitos. Comi empadinha no primeiro bar que vi em Ipanema. Não consegui cozinhar um só dia. Já sinto saudade da minha velha rotina que nunca era rotina. Achei o centro de BH o lugar com mais gente feia do mundo, além de um caos bizarro, meio à la Índia, meio à la Cidade do México. Passo algum tempo dos meus dias ociosos procurando apartamento pra alugar na cidade que me recebeu de volta e que me inspira sempre.
Ainda achando uma graça o jeito feliz e simpático do brasileiro, e da mulher da imigração que me arrancou um sorriso em meio a todo o meu nervosismo quando disse: "bem-vinda de volta querida!". Bem bom já ser assim querida!
Ainda achando uma graça o jeito feliz e simpático do brasileiro, e da mulher da imigração que me arrancou um sorriso em meio a todo o meu nervosismo quando disse: "bem-vinda de volta querida!". Bem bom já ser assim querida!
Continuo suando a diferença de mais de 50 graus entre lá e aqui. Fumando cigarros que já vem prontos! Tagarelando como sempre com os meus pais. Mandando emails pra eles lá e torcendo que eles apareçam aqui. Sem entender muito bem os preços. Sem entender muito bem como se faz pra viver menos individualista depois desse tempo fazendo tudo do meu jeito e na minha hora. Vendo e revendo fotos. Contando os dias pro meu irmão chegar. Lembrando como é bom estar com pessoas que te conhecem desde sempre. Acompanhando as temperaturas de lá e acolá aqui no desktop. Matando as saudades no Skype. Rindo à toa dessa vida boa. Rindo a valer dessa coisa toda brasileira. Dando beijinhos por onde passo porque BH é mesmo um ovo querido.
Dividindo meus pensamentos entre Berlin/New York/San Francisco/Tel Aviv/Kotbuss/WashingtonD.C./Paris/Barcelona/Valencia/Yecla/Delaware/København/
Dividindo meus pensamentos entre Berlin/New York/San Francisco/Tel Aviv/Kotbuss/WashingtonD.C./Paris/Barcelona/Valencia/Yecla/Delaware/København/
Louisville/London/Dublin/Москва́/Hamburg/Toronto/Solingen/México D.F./
Buenos Aires/Dresden/Istambul/Stockholm/Köln/Rio de Janeiro/Curitiba/Brasília/
São Paulo/Sete Lagoas e finalmente BH. Mais nos quatro primeiros que nos outros. Estranhamente menos no último que nos outros.
Sem mais delongas me despeço do blog e da vida que levei nos últimos meses. Temendo a falta de estrangeiridade e novidades. Procurando no palheiro a vontade mais importante e feliz no caminho. Por todos os dias, por tudo de irresistível que me entreguei, por tudo de bom e de ruim, bonito e difícil, inspirador e decepcionante, pela quase centena de shows inesquecíveis, por eles, de novo por eles, por tudo que me aconteceu, eu agradeço.
:)
4 comentários:
Que coisa mais linda. Bem vinda de volta, querida! Beijo!
Obrigada mas obrigada mesmo por ter voltado querida,beijos.
Adorei seu blog e seus textos :)
E obrigada por me linkar aqui!
Tschüss!!
beleza.. lindo lindo lo q has escrito.. siempre te acompañamos y tu nosotros
;-)
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